Love Ikea-like.

Depois de todas as tardes perdidas de pernas à chinês a tentar montar móveis e outras mobílias várias, depois dos parafusos mal aparafusados, de voltar a fazer tudo outra vez, e outra vez, e outra vez, e nunca resultar... depois de desistir, depois de usar como mesa-de-cabeceira o empilhado de livros que me ofereceram pelo Natal, depois de voltar a tentar, de achar que desta-é-de-vez, de respirar fundo, de arregaçar as mangas, de atar o cabelo, de atirar manuais de instruções ao chão, porque-não-há-manuais-de-instruções-para-o-amor, eis que.

Eis que apareces tu a dizer-me que amar é fácil. E mais: que pode ser, mesmo assim, perfeito. Fácil e perfeito: que contradição, senhores. E ao inicío fica-se a olhar de lado,
-o que é que estás para aí a dizer?
e não se acredita, mas todos me dizem continuamente que sim, que agora há amores que quase se constroem sozinhos, trazem as peças todas contadas e ficam bem em qualquer lado. E eu acredito, não porque acredito-mesmo, mas mais porque quero acreditar. Porque se houver uma hipótese de perfeição fácil neste mundo, eu quero pelo menos tentar acreditar nela e ver no que dá.

Mas e quando se desmonta um amor destes? Às vezes só para o mudar de divisão e voltar a construí-lo, de novo; às vezes só porque demoramos a saber o que queremos. E se os parafusos moldaram a madeira de forma perfeitamente irreversível? E se é como pintarmos um quadro mas depois ser já impossível voltar a pôr a tinta intacta na paleta, para um quadro diferente? E se o conto-de-fadas só se escrever uma vez? 

Livros empilhados a um canto, e tardes - perdidas? - a aprender a viver. Prefiro.

*Carolina* 

1 comentário:

Sofia disse...

O meu conto de fadas já se escreveu uma vez, por isso espero mesmo que se escreva mais... é que desta vez houve qualquer coisa que se desmontou... e acho que os parafusos moldaram a madeira de forma irreversível. Beijinho querida

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