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atlante, sussurra-me o teu segredo e eu prometo não contar.

-não queres que seja feliz?
só não te queria perder. 
-mas eu sou feliz contigo.
mas a tua felicidade era feita em série. eras feliz com o mundo inteiro.
-o mundo não me vai separar de ti.
mas também não te irias separar do mundo.
-competir com o mundo é ingrato, sabes.

gostar de ti era ingrato, acabavas de me dizer. querer demais era ingrato. e não havia nada a fazer. o mundo é grande demais para mim. o amor faz-te pensar que o consegues segurar nos ombros, mas depois as lombalgias acabam por chegar. e o mundo vence-te - quase - sempre. o problema é quando não consegues vencê-lo nem te queres juntar a ele. o problema é exactamente esse.

S.

#14 letter to someone you've drifted away from

coordenadas de afecto.

quando eu era pequenina queria ter um sítio. via nos filmes as pessoas a terem sítios para pensar, ora fosse em cima de um telhado, ou no jardim de uma casa abandonada que ninguém conhecia. e depois havia sempre uma parte do filme em que mostravam esse sítio a alguém importante:
-és a primeira pessoa que trago aqui.
então um dia fui passear perto da minha casa e encontrei uma figueira que me pareceu suficientemente simpática para a fazer minha. voltei logo e chamei a minha melhor amiga:
-anda, vem ver o meu sítio.
e basicamente chegámos lá, ela viu a figueira e talvez tenha imaginado as brincadeiras que eu nunca tive ali, os confins do pensamento que nunca alcancei; talvez tenha ido arranjar um sítio dela quando chegou a casa, só porque sim. e eu sentia-me um pouco uma espécie de fraude, mas não lhe contei a verdade.

agora penso que se calhar o importante não era o sítio, ou o que eu fazia lá, ou o significado que eu lhe atribuí ou não. talvez ao levarmos alguém connosco para dentro de um segredo nosso lhe estejamos a dizer:
-o meu sítio és tu.

Amy

#17 letter to someone from your childhood

i think we're better than this.

és aqueles sapatos que eu quero sempre usar em dias de sol, mas que me marcam os pés quando os uso. é que condizem com algodão doce à beira-mar, mas nunca com os meus pés descalços. olho-os só demoradamente, antes de sair de casa. talvez um dia o mundo ceda.

I.W. @

#22 letter to someone you want to give a second chance to

Cause you can't jump the track, we're like cars on a cable; and life's like an hour glass glued to the table.

Porque eu preciso de ti. E durante todo aquele tempo, eu precisei de ti. O dia em que alguém plantou camélias; o dia em que me ofereceste aquele botão de rosa: foi o dia. Foi o dia em que uma brisa ligeira de fim de tarde fez dançar uma folha de plátano, que caiu aos teus pés. O meu mundo caiu aos teus pés.

Quem adivinharia que não éramos perfeitos aí?

S.

#26 letter to the last person you made a pinky promise to


o meu chão vai escapando assim.

este banco hoje tira-me o ar aos poucos.

eu sentada e tu estavas ali, ombro no ombro não foi alucinação. seguravas-me, retinhas-me naquele banco e a certeza de que estavas ali fazia dissipar o meu nevoeiro interior. podia respirar, deixar tudo o que há em mim assentar no fundo de um erlenmeyer, porque no fim só restaria o que de mais puro e feliz reside em nós. podia fechar os olhos e instantaneamente sentir-me num dia de sol nada dúbio. depois nuvens. tu todo nuvens, e eu com aquela sensação com a qual às vezes acordamos sobressaltados à noite porque achamos que estamos a cair. tu nevoeiro imaterial, que não me sustém de todo. ficaram olhos abertos fixos num ponto abstracto no meio do nevoeiro. a pele ainda a sentir o teu ombro a esfumar-se. o coração ainda a sentir a desilusão a percorrer-lhe as válvulas. e eu? eu deitada agora, numa posição desconfortável. eu sozinha, afinal.

de mais uma tua

#5 letter to your dreams

amar não é, de todo, uma imperfeição, sim?

detesto as feministas estúpidas que não sabem o que é amar, e enfiam todo o mundo dentro de uma caixa como se fosse assim fácil, e como se fosse assim delas. como se o nariz delas estivesse acima de qualquer afecto. como se dar fosse vergonha, como se precisar fosse carência, como se amar fosse cliché. atiram rosas para o lixo como quem atira embalagens vazias. controlam tudo, cada lágrima que escorre e cada bater desalinhado do coração. não se deixam cair na espiral descontrolada que é deixar-se levar por olhares demorados ou mãos dadas a um final de tarde.

e apregoam que somos donas de nós e que somos fortes e que decidimos a nossa vida e que vamos controlar o mundo, acabando sozinhas a fazer festas a um gato, que não apareceu do nada na nossa casa, mas que nós - porque decidimos tudo - decidimos resgatar de uma rua perdida sem ninguém, porque é lá que passeamos porque somos fortes (e não precisamos, lá está, de ninguém.)

*Carolina*

#21 letter to someone you judged by their first impression

You've got stuck in a moment, and you can't get out of it.

Às vezes mudam-nos o caminho e nós ficamos paralisados na onda de choque. A partir daí vivemos tudo como novo, porque tudo nos parece diferente do que era. O deslumbre, a sensação de novidade nunca desaparece inteiramente de nós.

E a sensação de que eras uma novidade nunca desapareceu inteiramente de mim. Mesmo quando me fechaste a porta, mesmo quando me desligaste a luz. Tu eras a mudança que eu queria, e viver permanentemente na mesma mudança nunca me chegou a cansar. Mas acabou por te cansar a ti.

S.

#28 letter to someone that changed your life

we're one, even not being the same.

just see how our hands align perfectly, and how we move gently to the sound of each other. mirrors are us in another dimension of being ourselves. you are me, in another parallel universe. no doubt of that.

Alicee

#30 letter to your reflection in the mirror

Tenho um problema com pormenores.

Aquela flor que me deste tinha uma pétala partida e deixou cair uma folha no chão quando a estendeste para mim. Vénias de algo que já foi vida e que agora repousa na minha mão, submissa, como se me entregasse a sua vitalidade sem pensar duas vezes. Uma mártir, a secar a pouco e pouco, passando o seu vermelho para a minha face quente e o seu brilho para o meu olhar tremido. Senti-a fechar os olhos calmamente, como se lhe tivesse acabado de contar uma história de embalar.

A princesa tinha sobrevivido, a flor adormecia feliz.

Amy

#24 letter to the person that gave you your favourite memory

I'm just a notch in your bedpost. But you're [not] just a line in a song.

Detesto sentir-me triste. Por isso detesto as pessoas que me fazem sentir triste. Mas acontece que só as pessoas de quem eu gosto realmente é que têm a verdadeira capacidade de me conseguir fazer sentir triste.

Todo o meu ser se contorce em curvas e contracurvas de confusão. Não percebe os dois lados da Lua, porque lhe ensinaram  a só ver um. E as lógicas confundem-se como tintas numa paleta à toa. Percebo agora que este banco de jardim perdeu toda a lógica, tal como perdeu a tinta e alguns pregos, ao longo do tempo. Percebo agora que as nuvens densas que me envolvem às vezes e que me fazem acreditar que vais chegar mais cedo vêm de uma outra dimensão que não a da razão. Todo o meu ser se contorce nas tentativas falhadas de saber porque estou triste, na verdade. Talvez seja afinal porque nunca ninguém nos sabe ensinar a amar e odiar no mesmo tempo e espaço.

Ou talvez seja apenas porque tu estás atrasado, e vamos perder o início do filme.

de mais uma tua

#12 letter to the person you hate the most

Give me a stage, and I'll be your rock and roll queen.

Agora centro-me sempre mais em ti, quase mais do que em mim. Porque tu chegaste e revolveste o meu mundo e inverteste as minhas prioridades. E tiraste-me as palavras, mas deixaste-me com o teu calor, com a tua intensidade. Com algo que não sei explicar e que me percorre quando me tocas. Porque és mais do que imaginas ser. E a certeza de que somos um bocado perfeitos e de que não vamos desaparecer aloja-se cada vez mais em nós. Habitamos telepaticamente o mesmo espaço;

we're one in a different way, now.

Alicee

#23 letter to the last person you kissed


Já não como bolachas da mesma maneira.

Antes comprava um pacote e ia comendo duas ou três aqui, duas ou três ali. Duravam semanas, restavam migalhas. Agora não encontras pacotes abertos nos meus armários, à espera que me lembre deles, à espera que o desejo se acenda, ou simplesmente esquecidos porque passaram de validade. Depois de ti, as bolachas ganharam outro sabor. Primeiro achava que encontrava nelas o doce que deixei de encontrar na tua pele. Mas percebi que as devorava tão depressa por medo que elas no dia seguinte já lá não estivessem, por medo que o Monstro das Bolachas as levasse, ou sei lá. Como te levou a ti, de um dia para o outro. E quando fui à tua procura ao armário no outro dia, já lá não estavas. E eu ainda não tinha acabado de te saborear.

S.

#11 letter to a deceased person you wish you could talk to

Não quero mais os restos de felicidade dos outros.

Se tu és a borboleta linda que todos correm para apanhar quando o piquenique está a meio, aquela que pode fugir e voar e rodopiar com a certeza de que alguém tropeça para a seguir, eu sou o papel sujo e amarrotado que alguém deixou cair distraidamente no chão, entre ervas feias que nem são malmequeres, depois de te ver e antes de te tentar apanhar. E tu não sabes o que é isso, nunca estiveste muito tempo perto destes bichos que emergem da terra e que me segredam à noite todas as classes de palavras que têm subclasses de negação, todos os pretéritos imperfeitos, e todas as frases subordinadas condicionais e impossíveis. Porque tu tens asas e foges quando queres, para onde queres e com quem queres, e a mim deixaram-me aqui sozinha num mundo que eu não pedi pelo Natal. Num mundo onde as condições necessárias à realização do que quero são simplesmente inacessíveis, dadas todas as razões de que te possas lembrar e ainda o facto de eu me encontrar fisicamente no chão, onde nada chega a não ser chuva e migalhas do que outrora foi um bolo delicioso. Um bolo delicioso que eu nunca cheguei a provar. Mas tu sim, claro. Porque tu fazes tudo o que não faço. 

E eu fico aqui, imóvel, a ver.

*Carolina*

#18 letter to the person you wish you could be

That never happens, I guess I'm dreaming again. Let's be more than this.

O tempo não pára, e eu gostava que parasse para poder pensar indefinidamente na estupidez do que (não) estou a fazer. Para te fitar, desviar o olhar e voltar a pousar os meus olhos em ti quando atravessasses a rua antes de entrar. Para mexer o café, remexer, beber e voltar a pedir outro café sem que lá fora o semáforo ficasse verde. Para ter tempo de me surpreender quando te visse chegar, de ouvir a tua voz ao longe pedir
-um galão e uma meia-torrada,
de ficar de novo inebriada com a quantidade de partículas do ar que farias mover e que fariam vibrar o meu manto de invisibilidade. Para ter tempo de me acalmar, de deixar as emoções assentar depois do ciclone que me assalta todas as manhãs. O tempo não pára, e eu gostava que parasse para conseguir estar lúcida perto de ti, para me convencer de que não há nada mais normal do que pedir-te um guardanapo. Porque a minha mesa nunca tem aquele coisinho que armazena guardanapos, como se o universo estivesse em peso a dar-me oportunidades de ser feliz. Oportunidades essas que eu desperdiço, todas todas - e uma a uma também -  porque quando tu chegas e eu te vejo e as partículas do ar se agitam e todo o calor do mundo se concentra em mim, e por isso é que o café arrefece sempre, a minha lucidez desaparece e a única coisa de que me lembro é que não dá para ser mais feliz que isto. Sei que o tempo não pára, mas eu gostava que ele parasse para compreender ainda na tua presença que a felicidade é mais do que ver-te abrir desajeitadamente todas as manhãs um pacote de açúcar. A felicidade pode ser partilhá-lo contigo.

I.W. @

#9 letter to someone you wish you could meet

The stars are bright tonight.

Eu sei que as estrelas brilham; não precisas de mo dizer todas as noites. Já brilhavam antes de ti e irão continuar brilhantes depois. Mas não te vou pedir desculpa por não conseguires abafar o seu brilho com a tua voz, por os teus olhos não me conseguirem encandear a mim. Eu sei que as estrelas brilham, e sei que não brilham por causa de ti. Mas não te posso pedir desculpa por o universo ser assim.

*Carolina*

#13 letter to someone you wish could forgive you

Palavras.

Irritam-me as tuas palavras monocórdicas mortas e miseráveis, arrastadas pelos cantos de uma casa por onde nunca ninguém quer passar. Irritam-me as tuas palavras escritas a sussurrar e desprovidas de olhos nos quais eu possa olhar - e ter mais um bocadinho de certezas. Irritam-me as tuas palavras esvoaçantes leves e inúteis que o vento fez mudar de rumo antes de me roçarem a pele. (Não que eu quisesse que me roçassem a pele essas tristes tão tristes gotas de nada que escorrem do teu rosto a sorrir, quando me pedes para não te deixar.) Irritam-me as tuas palavras que me pedem para não te deixar, e irritam-me todas as outras não-palavras - porque não são dirigidas a mim - que pedem igualmente, mas aos outros, para ficar. Irritam-me as tuas palavras iguais tão iguais a toda a banalidade do mundo. Irritam-me as tuas palavras fáceis decoráveis e escritas num qualquer banco de jardim com chaves que abrem coisas triviais como casas.

Quero, ao invés, palavras difíceis que enrolam a língua e a elas trazem atrelados sentimentos difíceis demais para repousarem num jardim. Quero-as articuladas devagar, como uma vela que arde à noite e sopra desenhos de fumo sem fim. Irritas-me tu, porque as tuas palavras não são minhas, e nem sequer são assim.

de mais uma tua

#29 letter to the person you want to tell everything to,
but you're too afraid to

Cold-hearted being.

Não acredito que fui a rapariga que te disse tudo o que precisavas de ouvir. Não acredito que fui essa rapariga e que tu nem olhas para mim com um pouco mais de brilho nos olhos.

*Carolina*

#25 letter to the person you know
that is going through the worst of times

Nunca me chames princesa.

Gosto e não gosto que me faças isto. Sinto-me esplendidamente bem e aterradoramente mal. E tudo isto é demais para mim. É demais para mim. Quando eu sou só uma. Só uma, a sentir isto tudo.

Hoje colapsei.

de mais uma tua

#20 letter to the one that broke your heart the hardest

It's okay. I'm fine.

Tenho a necessidade de arranjar para mim própria premissas categóricas e irrefutáveis. Frases às quais eu me possa agarrar quando estou menos segura. (Repara: não insegura, menos segura.) Frases como
-eu sei o que quero
ou como
-o céu é azul.
Frases que são a minha lata de atum, o meu rádio e a minha caixa de primeiros-socorros caso haja uma catástrofe. Frases que grito a mim própria até à exaustão, até acreditar plenamente nelas, quando sinto que vou cair. Hoje não estás aqui, mas deixa lá. A frase que grito hoje a mim mesma é a seguinte:
-tu gostas de mim
nem que seja só um bocadinho. 

de mais uma tua

#10 letter to someone you don't talk to as much as you want to

One and only.

A diferença entre tu e os outros é que quando estamos todos juntos e só tu te vais embora, eu despeço-me de todos e vou embora também. E quando são os outros que se vão embora, eu despeço-me de todos, mas fico contigo. Simples? 
Amy

#2 letter to your crush
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