Mostrar mensagens com a etiqueta Invisible Woman. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Invisible Woman. Mostrar todas as mensagens

when reality strikes

devias começar a acreditar que as pessoas são neutras umas para as outras por defeito. que ninguém nasceu a não gostar de alguém. que ninguém está contra ti. e que a tendência natural de um ser humano é gostar de outro que apareça na sua vida, porque somos seres que nasceram para viver uns com os outros. se é possível demorares o teu olhar alguns segundos em alguém que se cruza contigo numa passadeira, é igualmente possível alguém nesse momento estar a demorar o seu olhar em ti.

I.W. @

why is it you whisper when you really need to yell?

tu assustas-me e eu não sei o que fazer, porque antes de te ver o mundo é simples. na imagem virtual que tenho de ti na minha cabeça, tu és uma pessoa como as outras que diz que sim cinquenta por cento das vezes. mas quando tu és mesmo tu, de carne e osso à minha frente, e abanas partículas de ar ao passar que roçam a minha pele, e os teus olhos são como super cola três, e dizes uma palavra banal que se liquidifica instantaneamente e passa pelos meus ouvidos e me preenche os capilares... assustas-me. e eu não sei o que fazer.

I.W. @

Ao som de "Wisely & Slow" - The Staves


a curta-metragem que estavas à espera.

he simply asked.
she simply said yes.

I.W. @

oh play

eu chegar aqui de manhã e sentar-me e pedir um café, não é mover o meu peão duas casas para começar. não posso menos querer saber das minhas torres. não vejo a tua entrada como uma ameaça à rainha, não estou a proteger o meu rei. não estou a engendrar nenhum plano para fazer cheque-mate em cinco jogadas. porque os meus peões avançariam primeiro, para te convidar. os meus bispos dir-te-iam que hoje pago eu. um dos cavalos num movimento elegante em l, roubar-te-ia uma tira de torrada, enquanto o outro mexeria suavemente o café. a minha rainha contar-te-ia o meu nome, e o meu rei perguntar-te-ia o teu. por isso te digo que a minha imobilidade não é uma estratégia de ataque, é simplesmente uma estupidez. 

I.W. @

o coiso dos guardanapos.

e depois tu viraste-te e disseste
-empresta-me o coiso dos guardanapos, se faz favor? a minha mesa não tem,
e eu fiquei petrificada, e tu deves ter achado que eu era parva ou surda ou uma miragem. mas eu pisquei os olhos para ver se continuavas lá, e continuavas. e os teus olhos a olhar para mim como se me atravessassem. o meu cérebro derreteu e eu não conseguia falar. se me levassem ao médico, o médico diria
-o cérebro dela derreteu. às vezes acontece. pobre rapariga.
depois olhei trinta centímetros para baixo e na tua mesa só estava a meia torrada e o galão, e realmente não tinhas guardanapos, e eu pensei que fora uma estupidez minha não ter meses antes tirado os guardanapos da tua mesa e de todas as outras mesas também, e deixar guardanapos só na minha, para tu seres obrigado a pedir-me a mim. teria sido de génio, e talvez hoje já estivéssemos casados. depois abri a boca para dizer
-claro, já não preciso, tome,
mas os teus olhos já não focavam os meus, e a tua boca já não se preparava para me agradecer, mas antes enfiava um grande bocado de torrada dentro dela, bocado esse que as tuas mãos agarravam com um guardanapo, que tinha acabado de sair de um coiso de guardanapos que afinal estava na mesa. afinal? passou por mim a empregada, que se pôs entre mim e ti, e o
-muito obrigado!
que eu ouvi depois não foi para mim, mas foi para ela, que tinha tirado um coiso de guardanapos do balcão e to levara prontamente, ao contrário de mim que tinha agora o cérebro derretido e guardanapos na mesa que não precisava para nada. e tu deves ter realmente achado que eu era parva ou surda ou uma miragem, e os teus olhos já não focavam os meus. os teus olhos já não focavam os meus, e eu não conseguia adivinhar quando os iriam focar outra vez.

I. W. @

... loading ...

descobri. descobri a origem de todos os meus problemas. é caso para abrir champanhe. a causa de todos eles sou eu, eu ser assim. eu ser assim é a causa de tudo. assim com este medo, assim com esta incerteza. nem vou nem fico. nem ando nem páro. nem nunca mais volto a este café nem te falo. é exactamente aquele momento entre o cair e o continuar de pé. o corpo assim cansa-se depressa, sempre em planos de contingência, caso aconteça o pior. nunca em velocidade de cruzeiro para o melhor. os músculos contraem-se demais, à espera de responder à decisão. a decisão nunca acontece. o momento em que se muda de canal e o ecrã fica preto por um segundo. precede-lhe uma tensão interminável, um limbo. umas reticências.  nem sim nem sopas. e estar assim continuamente seria tortura não fosse eu ser eu. não fosse eu gostar de vir aqui beber café. não fosse eu ser estúpida.

I. W. @

the x of life.

um rapaz e uma rapariga corriam os dois para apanhar o mesmo autocarro
-bolas, que eles deviam acabar juntos
não se conheciam, mas isso não era nada. sabiam que queriam a mesma coisa e às vezes é tudo o que basta. ele correu e atravessou a rua. ela estava mais longe mas aproveitou a deixa. não se perdem autocarros assim. 
-bolas, que eles deviam acabar juntos
mas não se conheciam, e até que ponto duas linhas perpendiculares acabam juntas só porque se cruzam pelo caminho? cruzam-se uma vez e nunca mais, toda a gente sabe isso, aprende-se na escola. na viagem um a cada ponta, calados, já não se olharam. onde antes houvera um sorriso agradecido e um alívio mútuo, havia agora uma boca feita horizonte.
-bolas, que eles deviam acabar juntos
mas aprende-se na escola, senhores. metade da vida a aproximar-se, aí tudo bem. mas a outra metade a afastar-se. quem faz isto a um par de jovens sem culpa? romeu e julieta condenados a um ângulo que por azar ainda seria obtuso. 

I.W. @

i tell you now where was your fault.

nunca te falei de ti a ninguém porque acho sempre não me saber explicar, e depois as pessoas fazem as perguntas mais complicadas aos apaixonados
- como é que se conheceram?
mas a forma recíproca de conjugar esse verbo troca-me as voltas à língua quando lhes vou para responder
- foi numa passadeira.
a bem dizer tu não me conheces, e a bem dizer a ti também não te conheço eu. mas acho que tenho um bom ponto de partida para uma conversa complicada com a amiga mais coscuvilheira do grupo
- foi amor à primeira vista?
primeiro faria um esgar. não responderia logo porque aquilo me evocaria memórias atordoantes. depois, diria mais ou menos assim:

foi como um livro. lês-lhe o título e achas giro. da segunda vez na livraria tocas-lhe devagar, lês-lhe a contracapa. um dia à socapa folheia-lo e lês uma frase de início de capítulo. a partir daí quando passas na livraria, olhas para o livro mas ele não chega a olhar bem para ti. vês que ninguém o leva e achas que podes esperar, mas e se te enganas? amor foi, mas melhor era se tivesse sido coragem à primeira vista.

I.W.@

Ao som de "White Blank Page" - Mumford & Sons.

don't you fool me this way

já me disseste que não muitas vezes. uma delas foi porque te entornei o café a ferver em cima, outra  foi porque tinha uma borbulha no nariz para a qual não paravas de olhar. já me disseste que o teu carro estava mal estacionado, que te doíam as costas, que ias mudar de país no dia seguinte. uma vez disseste-me que eras um anjo que tinha descido à terra para ajudar os humanos e que amanhã era o teu dia de regressar ao céu, outra vez que estava um crocodilo verde gigante a chegar à cidade e que tu tinhas de ir salvar o mundo. ontem à noite, disseste-me que não porque caiu um meteorito no meio do café, e tu gritaste algo como
-desculpa, tu até és gira mas isto agora está tudo a arder e eu tenho de ir embora que estou atrasado.
todas as noites dizes-me que não na minha cabeça; como queres que eu me levante de manhã a achar que sim? claro, podias só dizer
-olá, sim. senta-te. é chato tomar o pequeno-almoço sozinho. podes tirar uma torrada, se quiseres.
mas quais são as probabilidades disso?

I.W. @

someone said true love was dead and i'm bound to fall for you.

só conhecia uma música e já estava doido para ir ao concerto. ouviu a notícia na rádio e nem lhe interessou onde era, nem em que dia era, nem a que horas era, nem quanto era. ouviu a notícia na rádio e saltou ao meu lado. irrompeu num
- nem acredito que eles vãããão! aaaaaahhhhhhh!
eu não sabia que era doido por eles.
- só conheço uma música. mas é a música mais fixe que conheço!
durante o resto da viagem, não se calou. quando chegasse, ia comprar o bilhete. durante o resto da viagem, eu só pensava no que ele podia perder. gostava de uma música, mas e se detestasse as outras todas? ia pagar para ouvir uma música e vir embora? valeria a pena? entre tantas bandas que conhecia tão bem, ia a um concerto de uma que só ouvia esporadicamente na rádio. estava doido, ou quê?

e depois ontem decidi que te ia finalmente convidar para sair.
- estás doida? só o vês de manhã a comer torradas.
eu sabia. só te conhecia o sorriso. mas era o sorriso mais bonito que conhecia! 

e claro que valia a pena.

I.W. @

and I wish I would have seen you in the bakery, but if I'd seen you in the bakery, you probably wouldn't have seen me.

posso fingir que estou a distribuir panfletos sobre a gripe. ou sobre a fome no mundo. ou sobre os teus olhos e a forma como usas sempre dois guardanapos para agarrar as tiras de torrada. isso só interessaria a mim, mas aí já teria desculpa para correr atrás de ti, tocar-te até no ombro, sorrir, dizer
-olá, muito bom dia, como está, passou bem, tem dois minutinhos?
pedir-te dois minutinhos com o descaramento que é sempre desculpado a quem está no marketing. sim, talvez devesse afixar a minha admiração por ti em muros velhos, cartazes todos iguais, uns a seguir aos outros, tu sabes como se costuma fazer. quem sabe, marcar um encontro
-na mesa do canto, perto da janela
e só tu saberias. os outros achariam estranho, os turistas tirariam fotografias, as crianças apontariam e perguntariam aos pais onde ficava aquele país Mesa do Canto (e na verdade aquela mesa é um país aos meus olhos, tem uma bandeira com malmequeres, um hino a nós e a moeda de troca são tiras de torrada - as do meio valem o dobro, claro.) tu talvez parasses durante menos tempo que os restantes, e no entanto teria sido a ti que o cartaz tinha tocado. verias e acelerarias o passo com medo que alguém reparasse que afinal aquilo tinha significado. 
-afinal o amor existe, hey, ouçam todos, afinal o amor existe!
e rir-se-iam de ti. por isso, olharias para um lado e para o outro, como fazem as pessoas que caem em público - e tu caíste, caíste em ti - e continuarias a andar, mas em direcção a mim.

I.W. @

Escrito ao som de "Bakery" - Arctic Monkeys.

àqueles que amam músicas mas não as sabem dançar.

dirás
-que coisa estúpida, as árvores não dançam
antes de me conhecer. depois dirias
-ah, abre a janela e deixa ver que música é.

começaram por dançar de mansinho, como quem abre a pista de dança. depois, cépticos dirão um vento mais forte mas eu chamo-lhe apenas intuição, lançaram-se em coreografias que prometiam sucesso se se fizessem concursos de árvores em horário nobre. coreografias que depressa se descaíram num passo hesitante desalinhado. dirás
-que coisa estúpida, as árvores não andam
antes de me conhecer. depois dirias
-pena é que não corram.

I.W. @

Escrito pela primeira vez num guardanapo,
vendo árvores dançantes na brisa da meia-noite.

i think we're better than this.

és aqueles sapatos que eu quero sempre usar em dias de sol, mas que me marcam os pés quando os uso. é que condizem com algodão doce à beira-mar, mas nunca com os meus pés descalços. olho-os só demoradamente, antes de sair de casa. talvez um dia o mundo ceda.

I.W. @

#22 letter to someone you want to give a second chance to

If I could be your hummingbird.

Eu sou a única pessoa que consegue ver tudo o que és no escuro,
tudo o que podias ser à luz do dia. 

E sou a única que se apaixona por isso.

I.W. @

Ridicularidades e um chá de canela.

Sabes os corações apertados demais? Quero tanto deixar o meu ir. Quero tanto. Deixar de tentar plantar flores em canteiros por ordem de cor, tamanho e beleza interior. Quero tanto parar de fazer contas. Deixar o dia correr e anoitecer e amanhecer e continuar a ser feliz. Quero tanto esquecer-me do que quero. Pôr de parte os planos feitos quando ainda não sabia nada sobre corações, nem sobre esse combustível que me percorre quando passas. Quero tanto deixar de ser e ao mesmo tempo sê-lo. Arrancar-me aos bocados e construir-me de novo, reorganizar o puzzle interior de emoções. Quero tanto parar o tempo e ao mesmo tempo deixá-lo voar. Entrar numa bola de sabão e não deixar bisturis de incerteza me tocarem sequer. Ser leve como uma bola de sabão e não querer saber de mais nada. Quero tanto ser feliz. Mas ser feliz só porque sim.

I.W. @

Maybe they'll still run for their lives.

Gostava de explicar porque é que as ondas que vi hoje naquela praia eram oblíquas a rebentar na areia, em ângulos sempre incompreendidos. Porque é que uma nuvem é impossível de desenhar a carvão, se quando olhas uma segunda vez já o vento a moldou de novo. Gostava de te dizer que também eu sou uma nuvem complicada e tão depressa quero chover como fazer companhia ao sol. Gostava que todas as coisas difíceis do mundo se tornassem fáceis no segundo em que nos olhamos nos olhos para que, à parte de tudo o que é mutável e confuso, sabermos os dois ao menos que as ondas vão continuar a chegar sempre à praia, e que as nuvens, por muito que chovam, não deixam de ser água também.

Gostava de te dizer que não faz mal ser assim e que eu também o sou, 
só que não consigo.
I.W. @

Escrito ao som de "Run" - Snow Patrol.

one of the things real life doesn't let me do.

i would really like to photoshop your world perspective.
i would focus myself,

and blur all the rest.

I.W. @

Next time I'd like to find you.

Even if you're here all the time.

I. W. @

Porque o Rafael trazia no outro dia uma t-shirt que me inspirou.

Maybe chaos just loves us too much.

Tinha aquele parágrafo na cabeça. Não a letra de uma música aleatória que se ouve na rádio e que persiste em nós todo o dia. Eram sim frases aparentemente sem ritmo e às quais eu quase não dei importância, mas que agora dançam na minha cabeça. Dançam ao som da colher a bater na chávena, aquele tilintar irritante que eu insisto em manter, caso um dia tu repares e me mandes parar.
-Pára!
Gritarias tu aqui no meio, e toda a gente ficaria a olhar para nós. Eu paralisaria, não porque a tua acção era completamente louca e obcessiva, mas porque tinhas falado para mim. E de súbito olharias os meus olhos abertos para ti e a colher suspensa no ar, e derreter-te-ias em mil desculpas. Tinhas uma dor de cabeça insuportável, uma noite inteira passada a ler um livro interminável. E eu sorriria, ao ver-te sentar na minha mesa, e ao invadi-la com o teu galão,
-desculpa, toma uma tira de torrada; até pode ser a do meio, hoje não tenho fome,
veria que sempre éramos iguais. O parágrafo que percorria agora os carris da minha mente tinha sido o último em que os meus olhos pousaram ontem, antes de se fecharem. Tinha sido escrito por uma senhora com um nome triste, e dizia algo como sermos sempre o anónimo de alguém, numa fase qualquer da nossa vida. A senhora do nome triste fazia tudo parecer triste, por isso o parágrafo era ele próprio triste, claro. Tão triste que fechei o livro, e os olhos, e a minha mente, e o meu coração àquela tristeza estúpida em que o raio da senhora nos queria fazer acreditar. Seria provavelmente uma senhora que nunca tomava café em sítios com janelas grandes que dessem para o Sol entrar. Uma senhora que nunca soube as incógnitas da vida, nunca conheceu as pessoas só de as ver passar na rua. Nunca percebeu que não conhecer é o mais comum neste mundo, e isso não deve ser infeliz. Eu sou a tua anónima, tu deves ser provavelmente o anónimo de alguém que não eu. Mas estamos felizes. Eu faço a colher dançar na chávena, e tu hoje entraste no café a cantar. Não te ouvi, mas vi pelos teus olhos.

I.W. @

Obrigada, Anónimos deste mundo.

Way up high, or down low.

Há dias em que o café custa mais a engolir. Nesses dias parece-me que se não investisse tanto em ti, talvez pudesse ser mais feliz. Nesses dias este café prende-me, esta cadeira prende-me, todas as partículas de ar formam uma redoma que se ajusta tanto ao meu corpo que me paralisa. Nesses dias eu quero sair mas não consigo. Quero ser feliz longe de ti mas não consigo. Nesses dias acho que moldaste o que era a felicidade para mim. Nesses dias, em que o café queima mais na garganta, quero gritar-te que já não preciso da ideia que tenho de ti, mesmo sem te ter.

Mas rapidamente o açúcar se ajusta e faz tudo parecer mais suave. Rapidamente levas a mão ao cabelo e quase olhas para mim. E as partículas de ar estilhaçam-se à minha volta como cristais. Rapidamente volto a respirar e a só querer ser feliz contigo. Rapidamente volto a querer gritar-te coisas - outras coisas, agora - mas não consigo.

I.W. @
Invisible Woman (55) Alice (49) One more (49) Carolina (37) S. (33) Amy (19) Dee Moon (7)