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where it all begins.

a corrente eléctrica... fez curto-circuito.

Carolina.

who died and made me your savior?

é que a minha missão não é essa, não me arrastes para isso. porque não sou perto de perfeita. não te posso agarrar cada vez que cais porque eu própria me desequilibro mais do que julgas. não quero estar nesse pedestal onde insistes em me pôr. porque não me conheces de tão bem que me conheces. mas, achas que nos salvamos mutuamente, achas que preciso de uma rede tua, achas que somos nós contra o mundo? então tenho pena, porque se tu só olhas para mim daí, eu daqui olho o mundo todo. e se estás contra o mundo eu não me junto a ti nessa batalha. eu já não estou mais no sítio onde me encontraste pela primeira vez - acho que ainda não sabes isso. eu voei. eu voei e tu agarras-me uma asa, e perguntas-me onde vou e quando chego, e não me apetece responder. não porque não sei, mas porque não interessa. se uma rosa cresce sozinha num campo toda a gente acha que ela serve para enfeitar a casa de alguém, mas porquê? deixem-na estar. deixem-me estar. deixa-me estar. o mundo para mim é outro, estou fora daí. disse que não sou perto de perfeita porque não sou, porque tenho as minhas missões e as minhas missões não te incluem a ti. não sou perto de perfeita porque acho que não tenho de te pedir desculpa. porque acho que não te devo nada. então, não tenho de te salvar nem que façam petições pelo mundo. a minha missão não é essa, não me arrastes para isso.

Carolina.

there was a time in my life when i was carried by all of you.

saberes que ninguém está a pensar em ti é a liberdade de apanhares flores num campo sem dono ou de entrares num autocarro onde não se paga bilhete ou sentir a leveza de cozinhares sem receita e sair bem ou dormires sem despertador mas acordares à mesma hora. ninguém lê o que não queres dizer e aquilo que dizes é aquilo que dizes e o que sentes não tens de explicar e se gritas é porque gritas e se não vais não foste. sobes as montanhas e desces as montanhas e sobes outra vez e se cais ninguém te apanha mas se cais ninguém goza contigo. saberes que ninguém está a pensar em ti é o mundo inteiro a dizer-te
- vai primeiro e se for giro chama-me.

*Carolina*

the three-minute no.

eu podia bem contar em três minutos a bola de neve que isto foi. teria de hesitar um bocadinho para pensar no que aconteceu primeiro, mas a coisa lá iria bem depois. de certeza que há quem queira saber, de certeza que há quem não durma. eu escolho não pensar muito em neve porque ao fim e ao cabo já não interessa para nada. não vale a pena fazer actas de sentimentos passados, às vezes. talvez se aprenda, mas o esforço não compensa. sobretudo se é de neve que falamos. não interessa para nada porque a neve agora está toda no sopé da montanha, já não vai voltar lá para cima, e quanto muito vai derreter e ir ainda mais por aí abaixo. quem quer ouvir uma história triste como esta? as pessoas acham que querem respostas mas na verdade só querem uma resposta. as outras não querem: são feias, ou frias. mas quando se pergunta não se sabe qual das respostas vai calhar. 

eu podia bem contar em três minutos a bola de neve que isto foi. sei na verdade que no fim isto só vai gelar mais as pessoas. tenho noção que histórias destas sobre neve não são bem o que as pessoas querem. as pessoas só querem amigos para sempre.

*Carolina*

o universo tem um fundo falso.

de vez em quando há coisas que têm tudo para dar certo e não dão. não dão. e ninguém sabe porquê nem ninguém nunca saberá. segues a receita do livro à risca e o bolo afinal sabe mal. que podias ter feito mais senão isso? inquieta porque a bilateralidade é incoerente, e dois mais dois só são quatro em dias de sol. e porquê? porquê? morre-te um doente e tu dizes que fizeste tudo e não chegou, mas como é que tudo não chega? que injustiça porem-nos aqui num mundo onde o tudo pode não chegar, onde nem disso estamos certos. onde não há axiomas matemáticos que nos valham, ou constantes de Plank. 

tu, por exemplo, vives em busca da perfeição porque acreditas que se a atingires vais ser feliz. mas e se agora te disser que não? que não adianta, porque a perfeição pode não chegar. o que é que fazes, o que é que vais fazer? o que é que ainda te faz sentido?

*Carolina*

i would even make a hot beverage

e de repente todas as pessoas têm mais que fazer. e todas as pessoas de repente têm uma pessoa menos eu. e eu não sei que fiz às pessoas que tinha, ou as afugentei com o meu barafustar de braços, ou elas perceberam sozinhas que eu não sou pessoa com quem se esteja porque sim.

*Carolina*

they gave me a new pair of glasses, indeed

só agora notei que já foste embora há muito tempo ...

[as pessoas dizem que não é possível alterar o passado, mas no fundo isso são tretas para seguirmos em frente. a verdade é que o passado não é um bloco de granito, é mais um copo de água que muda de cor consoante os olhos com que o fitares. no fim, ninguém sabe muito bem o que verdadeiramente aconteceu. ou talvez tenha acontecido tudo em simultâneo.] 

... e o meu passado de repente mudou.  é como ver um filme pela segunda vez, mas agora com os comentários do realizador.

*Carolina*

Ao som de "Liar" - Mumford & Sons

when you're happy like a fool, let it take you over.

voltei lá outra vez. disseste-me que nunca devia voltar aos sítios onde era feliz, e no caminho eu percebi porquê. da primeira vez que caminhei naquela estrada, ia sem saber o que me esperava. ao regresso, vinha feita balão inchado de ar a subir em direcção ao céu, e no entanto a caminhar pelos meus pés. agora lá ia eu outra vez, não cheia de ar eu própria, mas a encher balões e a largá-los ao vento, como se dali a pouco me tornasse neles outra vez. não seriam possíveis sonhos mais altos que aqueles; não seria possível pessoa mais louca que aquela, a querer esticar a felicidade como se fosse uma fisga
-era a pedra agora bater-lhe nos olhos, a ver se aprendia.
ou era agora a pedra que eu lançasse bater nos balões e rebentá-los todos, e de lá sair o quê? eu outra vez, saíres tu, sair a paz no mundo ou um dia de sol, sair chocolate quente ou um duplo seis. disseste-me que nunca devia voltar aos sítios onde era feliz, e tinhas razão, claro, os olhos negros são feios de se ver. mas os sítios vão acabar por se esgotar, e se eu não apontar aos balões, como saberei de que sou feita?

Carolina*

Sonhar como se vivesses para sempre. Viver como se morresses amanhã.

Depressa, queria ir para casa. Descalçar-se, ser feliz. A cinderela partiu o sapato mas não tem lacaios que a levem escondida, e não é meia-noite nem passa uma brisa ligeira: o sol bate na cara e queima a pele, e é hora de ponta nas ruas do mundo. Não deixou rasto, ninguém a segue. Só a segurança ficou lá atrás, onde antes morava o sapato inteiro; bem dizem que a nossa alma mora nos pés.

O sol brilha, mas por azar as abóboras não crescem nas árvores.

*Carolina*

Escrito ao som de "A Dustland Fairytale" - The Killers

Love Ikea-like.

Depois de todas as tardes perdidas de pernas à chinês a tentar montar móveis e outras mobílias várias, depois dos parafusos mal aparafusados, de voltar a fazer tudo outra vez, e outra vez, e outra vez, e nunca resultar... depois de desistir, depois de usar como mesa-de-cabeceira o empilhado de livros que me ofereceram pelo Natal, depois de voltar a tentar, de achar que desta-é-de-vez, de respirar fundo, de arregaçar as mangas, de atar o cabelo, de atirar manuais de instruções ao chão, porque-não-há-manuais-de-instruções-para-o-amor, eis que.

Eis que apareces tu a dizer-me que amar é fácil. E mais: que pode ser, mesmo assim, perfeito. Fácil e perfeito: que contradição, senhores. E ao inicío fica-se a olhar de lado,
-o que é que estás para aí a dizer?
e não se acredita, mas todos me dizem continuamente que sim, que agora há amores que quase se constroem sozinhos, trazem as peças todas contadas e ficam bem em qualquer lado. E eu acredito, não porque acredito-mesmo, mas mais porque quero acreditar. Porque se houver uma hipótese de perfeição fácil neste mundo, eu quero pelo menos tentar acreditar nela e ver no que dá.

Mas e quando se desmonta um amor destes? Às vezes só para o mudar de divisão e voltar a construí-lo, de novo; às vezes só porque demoramos a saber o que queremos. E se os parafusos moldaram a madeira de forma perfeitamente irreversível? E se é como pintarmos um quadro mas depois ser já impossível voltar a pôr a tinta intacta na paleta, para um quadro diferente? E se o conto-de-fadas só se escrever uma vez? 

Livros empilhados a um canto, e tardes - perdidas? - a aprender a viver. Prefiro.

*Carolina* 

amar não é, de todo, uma imperfeição, sim?

detesto as feministas estúpidas que não sabem o que é amar, e enfiam todo o mundo dentro de uma caixa como se fosse assim fácil, e como se fosse assim delas. como se o nariz delas estivesse acima de qualquer afecto. como se dar fosse vergonha, como se precisar fosse carência, como se amar fosse cliché. atiram rosas para o lixo como quem atira embalagens vazias. controlam tudo, cada lágrima que escorre e cada bater desalinhado do coração. não se deixam cair na espiral descontrolada que é deixar-se levar por olhares demorados ou mãos dadas a um final de tarde.

e apregoam que somos donas de nós e que somos fortes e que decidimos a nossa vida e que vamos controlar o mundo, acabando sozinhas a fazer festas a um gato, que não apareceu do nada na nossa casa, mas que nós - porque decidimos tudo - decidimos resgatar de uma rua perdida sem ninguém, porque é lá que passeamos porque somos fortes (e não precisamos, lá está, de ninguém.)

*Carolina*

#21 letter to someone you judged by their first impression

Drive me home instead.

Conduzia com cuidado e nem olhava para mim quando falava com ela. Os seus olhos iam abertos, assustados, preparados para travar a qualquer momento se um vulto cruzasse o nosso caminho. Chovia, é certo, mas não era isso que ela temia. Eu mesmo assim ia-lhe contando as minhas peripécias do dia, a torrada que deixei queimar porque tu me ligaste e o jornal que deixei ficar lá no quiosque, embora o tivesse pago. Ela mal me ouvia. Os pára-brisas repetitivos segmentavam-lhe a visão, mas não era isso que a preocupava.
-Conheço mal o caminho. E depois à noite é tudo tão diferente.
Deixei de a tentar distrair. Olhei, pelo contrário, para o outro lado. Pela janela, por onde escorriam nuvens inteiras no vidro, via-se um outro mundo. Um mundo que as crianças nunca aprendem a pintar na escola. O sol ali não é amarelo, o céu não é azul, nem as árvores verdes. Os contornos ganham incertezas, dúvidas. Será aquilo um gato? Ou um arbusto rasteiro? Luz significa razão por alguma coisa. A noite, essa sim, é absurda. Ainda mais quando conhecemos mal o trilho dos nossos passos. Ali, passa a ser mais fácil perder do que encontrar. Mais fácil cair que levantar. Íamos jurar que era um gato. Íamos jurar que o ouvimos miar. Era o vento, era a nossa imaginação a brincar no escuro.

Conhecemos mal o caminho, nós. E quando não vemos tudo na noite, duvidamos, tememos e travamos. Mas não vemos tudo, nunca. Vivemos constantemente na escuridão, há sempre algo que escapa à luz, há sempre sentimentos opacos e olhos opacos e gestos opacos e pessoas opacas que não deixam ver nada. E não é a noite que engana, afinal. A noite avisa-nos de que é assim. Todos sabemos os perigos, os medos, as sombras. A luz, por sua vez, envolve-se de um cinismo atroz e faz tudo parecer radiante, fácil e límpido. E afinal escondem-se nela segredos também.  
Voltei a fixá-la, e aos seus olhos atentos.
-Devias parar de conduzir de dia. Faz-te mal.

*Carolina*


Não quero mais os restos de felicidade dos outros.

Se tu és a borboleta linda que todos correm para apanhar quando o piquenique está a meio, aquela que pode fugir e voar e rodopiar com a certeza de que alguém tropeça para a seguir, eu sou o papel sujo e amarrotado que alguém deixou cair distraidamente no chão, entre ervas feias que nem são malmequeres, depois de te ver e antes de te tentar apanhar. E tu não sabes o que é isso, nunca estiveste muito tempo perto destes bichos que emergem da terra e que me segredam à noite todas as classes de palavras que têm subclasses de negação, todos os pretéritos imperfeitos, e todas as frases subordinadas condicionais e impossíveis. Porque tu tens asas e foges quando queres, para onde queres e com quem queres, e a mim deixaram-me aqui sozinha num mundo que eu não pedi pelo Natal. Num mundo onde as condições necessárias à realização do que quero são simplesmente inacessíveis, dadas todas as razões de que te possas lembrar e ainda o facto de eu me encontrar fisicamente no chão, onde nada chega a não ser chuva e migalhas do que outrora foi um bolo delicioso. Um bolo delicioso que eu nunca cheguei a provar. Mas tu sim, claro. Porque tu fazes tudo o que não faço. 

E eu fico aqui, imóvel, a ver.

*Carolina*

#18 letter to the person you wish you could be

The stars are bright tonight.

Eu sei que as estrelas brilham; não precisas de mo dizer todas as noites. Já brilhavam antes de ti e irão continuar brilhantes depois. Mas não te vou pedir desculpa por não conseguires abafar o seu brilho com a tua voz, por os teus olhos não me conseguirem encandear a mim. Eu sei que as estrelas brilham, e sei que não brilham por causa de ti. Mas não te posso pedir desculpa por o universo ser assim.

*Carolina*

#13 letter to someone you wish could forgive you

Cold-hearted being.

Não acredito que fui a rapariga que te disse tudo o que precisavas de ouvir. Não acredito que fui essa rapariga e que tu nem olhas para mim com um pouco mais de brilho nos olhos.

*Carolina*

#25 letter to the person you know
that is going through the worst of times

I'll stand by you.

As coisas inexplicáveis só o são para quem não entende a sua essência. Sempre foi o que achei. Então a nossa história explica-se em papel quadriculado. Explica-se em riscos desalinhados porque alguém tocou em alguém, explica-se em xadrezes desenhados a carvão. Explica-se em borrões de borracha porque alguém disse a alguém o que estava mal. Explica-se em corações nas margens, nós ladeados pelo sentimento mais quente, e mesmo assim o papel não arde. Pode ser papel arrancado, meio rasgado porque ninguém tem paciência para o destacar pelo picotado de um caderno cheio de cerimónias, amarrotado feito até numa bola, que já voou ao pé das nuvens porque se queria chamar a atenção. Pode já ter chovido, ele pode já ter secado. As linhas perpendiculares podem já ter-se fundido em manchas azuis lixiviadas. Mas ei-lo ali, novamente esticado, não novo, mas sobrevivente, vivido, a permanecer. Nunca numa moldura, nunca para ser recordado; ao lado de uma caneta sempre, onde é preciso escrever.

*Carolina*

#1 letter to your best friend

23 minutos é muito tempo.

Sobes as escadas, mas eu não estou ali. Nenhuma porta entreaberta anseia por me desvendar. Nenhum quarto fica mais cheio comigo lá. Não me vês sentada à janela, com as pernas a cair sobre o ar lá fora, à espera que me afagues o cabelo e que digas
-cheguei.
Nem sequer estou lá em baixo, encostada à árvore onde tu querias que eu estivesse. Estou ao lado, muito ao lado. Estou muito para lá de tudo. Vejo este itinerário nos teus olhos, a tua expressão desanimada a não me encontrar ali, mas sabes que não podia ser de outra maneira. Vejo-te a abrir a janela, a olhar o infinito que eu deixei longe, a quereres-me ali. Vejo-te a fazer pactos com a lua
-o brilho dos meus olhos a troco dela. 
Vejo isto tudo e no entanto não posso olhar para trás.

*Carolina*

she's a rebel.

só porque a minha vontade de ser feliz é maior do que a vontade de agradar aos outros.

*Carolina*

Se não ficas triste por cair, é porque a meta não te interessa.

Acho que um gesto meu ao acaso nunca rasgou a tua película de seda. Acho que nunca te magoei. Acho que nunca te esfarrapei.  Acho que nunca te zangaste comigo por uma palavra fora das margens. E acho que nunca te desiludi. Acho que nunca te fiz sentir a contradição da vida. Acho que nunca te confundi. Acho que nunca pensaste em mim como quem existe. Acho que nunca sofreste sem saber o que eu achava. Acho que nunca sufocaste sem saber onde eu estava. Acho que nunca te fiz sentir como quem quer chorar. Acho que nunca te arranquei sonhos como ervas daninhas. Acho que nunca te toquei. Acho que nunca te fiz comichão. E nunca deixei a marca das minhas unhas na tua pele. Acho que nunca sentiste sequer os meus dedos na tua pele. Acho que nunca te fiz diferença. Acho que nunca te empurrei, nunca te gritei, nunca te atirei ao chão.

Acho que nunca gostaste de mim o suficiente para me deixar fazer-te isto. (Não que eu quisesse fazer-te isto, mas ter-me-ia feito bem saber que esperavas algo mais de mim.)

*Carolina*

Línguas de gato, mnham mnham.

Hoje passei naquela rua onde um dia fizemos desaparecer dois pacotes de línguas de gato, a sorrir. Era ainda o tempo dos sóis derretidos e dos olhares que perduravam. Era o tempo das meias palavras que bastavam. Passei lá hoje e vi-nos sentados no chão, a dizer disparates como
-para sempre
entre línguas de gato. Apetecia-me arrancar aquele pacote troçador das minhas próprias mãos, espalhar todas as línguas de gato pelo chão e dizer-me o futuro, para evitar tristezas maiores. Mas depois olhei melhor os meus gestos de felicidade na altura. Dir-me-ia então apenas
-faças o que fizeres, nunca faças madeixas azuis. trust me. ficam-te mal
porque quando meses depois surgiu a típica conversa, eu precisei que as pessoas, ao olhar para mim, reparassem em algo que não fosse as minhas lágrimas interiores.
Quando saí de casa, vi uma mulher a comer línguas de gato, sentada no chão e encostada à parede do meu prédio. Parecia falar sozinha sem mexer os lábios. Arrepiei-me. Noutros dias, ter-lhe-ia perguntado se estava bem. Hoje pus-me a pensar que nós também somos assim. Falamos um com o outro sem mexer os lábios. Pergunto-me se também arrepiaremos as pessoas à nossa volta.
É incrível. O modo como as pessoas são, o modo como se ignoram olhos nos olhos. Nunca sejas assim. Nunca passes por mim sem me ver, mesmo que eu esteja a comer línguas de gato no chão. Pede-me ao menos uma, diz que te importas.
Não tenho fome. Não sei o que estou aqui a fazer. Pedi uma garrafa de água e sentei-me porque estou à tua espera. Seria estúpido ocupar uma mesa se não estivesse a consumir. Mas pareço aquelas fãs malucas que vão para a frente dos palcos. Meu deus, pareço mesmo! Estou à espera que entres cintilante e que arrebates o mundo com o som da tua voz. A única diferença é que dirias
-um galão e uma meia-torrada.
E lá vens tu, de pólo verde escuro (mas que tem a alma de um blusão de cabedal). Sei a tua coreografia de cor. Apoias a mão esquerda no balcão, e a direita rouba dois guardanapos enquanto esperas que te atendam.
-um pacote de línguas de gato.
deste meia volta e saíste. Pelo caminho, deixaste cair uma língua de gato. (Será possível não conseguires abrir uma embalagem como deve ser?) Hoje improvisaste e eu fiquei mesmo confusa. Não sei a letra desta música. Devia seguir-te para descobrir?
-às onze na minha casa. traz línguas de gato.
Quer-me parecer que na minha terra sempre chamámos línguas de gato a morangos e um bom champanhe. Não te atrevas a desmentir.
-desculpa, atrasei-me. Encontrei uma amiga pelo caminho e distraí-me com as horas.
Hum.
-mas trouxe línguas de gato.
Não gosto.
-oh. é que olhei para o bicho engraçado na embalagem e lembrei-me de ti.
How sweet. Mas devias era ter-te lembrado de mim quando o tempo passava e tu estavas distraído com as horas. (E é isto que um dia te vou conseguir dizer, sem vacilar. E depois vou-me levantar, roubar-te uma língua de gato e dizer
-e eu gosto de línguas de gato, parvo. Devias saber e ter discutido comigo.)
Quanto estás triste, é o que te digo, minha língua de gato.
-our world will always fit in a soap bubble, and still fly around.
Safe and free. No one can touch us.

Post comemorativo dos 6 meses do blogue.
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