Nunca te vi fora daqui.

No outro dia pus-me a pensar.

Que fantasia secreta é esta que eu tenho com este café, dios mio? Hoje apanhei-me a sonhar com galões sem açúcar. Que dirias tu se soubesses que a estranha que todos os dias está ali naquela mesa do canto a olhar-te, ainda com cara de sono e cabelo de meio-susto, anda a sonhar com galões sem açúcar? Não tem explicação, eu sei, porque tu despejas sempre dois pacotes no teu. Então eu pus-me a pensar. Havia a casa para arrumar e o almoço de domingo para fazer, para receber a família em condições. E em vez disso vesti uma roupa assim-assim (porque sabia que não te ia encontrar) e sentei-me aqui. Aqui onde tu te sentas sempre, excepto fins-de-semana e feriados, como o 'proibido estacionar'. Na mesma cadeira, exactamente. E posso constatar que os semáforos são coisa digna de se ver enquanto se morde uma torrada. Mas pus-me a pensar. Chego antes de ti e vou embora só depois. Tu és este café, és o galão, és os dois pacotes de açúcar. És a meia-torrada. És esta cadeira, esta mesa meio-coxa, és os semáforos e o vidro aqui no meio, és o Bom dia no olhar e o Adeus ao encostar a porta do café nos dias de frio. És o guarda-chuva que deixas no bengaleiro e és cada gota de água que dele escorre. O tempo passa; eu vim pensar aqui em ti, contigo, nisto tudo que só me faz lembrar-te, mas hoje é domingo. Galões sem açúcar, sabes? Incompletos.

I.W. @