Vou contar-te um segredo.

Eu era outra pessoa antes de te ver. Saía de casa sempre à mesma hora, mecânica. Assim que a empregada me atendia, um café e um queque para levar, dava meia volta e saía pela porta, deixando o dinheiro já trocado em cima do balcão. Sabes? Eu era certa, como a quantia que lá deixava. Pedia o mesmo, recebia o mesmo, pagava o mesmo. E apanhava aquele metro, sentava-me no mesmo banco, conversava com a mesma pessoa, que era certa como eu.

A magia para mim era nos livros. Só. Mas um dia olhei em frente em vez de fitar o chão. Vi-te a ti, à espera de um sinal verde para avançar na passadeira. Eu estava do outro lado. E não sei, quebrou-se tudo ali. Os meus pés não se mexeram quando tudo o resto avançou. A leve brisa, que todas as manhãs passa por mim, tocou-me pela primeira vez. E eu não sabia bem como, mas percebi logo que nesse dia ia chegar atrasada a algum lado.

Entraste aqui, logo a seguir, e sentaste-te na tua mesa. E eu, que trazia já o meu pequeno-almoço num saco de papel, escondi-o rapidamente na mala e entrei atrás de ti. Ouvi-te a pedir o galão e a meia torrada e pedi o mesmo. Sentei-me aqui. E embora pouco depois me tenha levantado, quando te levantaste calmamente e saíste, sinto que estou sempre aqui, e tu estás sempre aí. Eu sempre a fixar-te e tu sempre sem dar por isso. 

E assim a pessoa certa perdeu as certezas.   

I.W. @

2 comentários:

Ana disse...

A I.W. é realmente intrigante, doce e apaixonante! Adoro a atmosfera de que os textos falam, é interessante pela invulgaridade. ^^

Sofia disse...

Gosto tanto destes textos que falam do café e do galão e da meia torrada... gosto tanto do teu blog, já te tinha dito? :) beijinho

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