O nosso jardim.

Sentar-te-ias lá comigo. Falar-me-ias dos malmequeres selvagens que teimas em plantar. E só podíamos discutir. Tu rias-te porque eu estava demasiado irritada por causa de malmequeres que abanam com o vento (para ti nada pode abanar com o vento). Tentava explicar-te em vão que selvagem não é isso. Era contra as regras plantar fosse o que fosse. (Éramos capazes de passar uma tarde inteira a falar de malmequeres. E a noite, se a passássemos juntos, seria a descobrir constelações nas estrelas com a forma de malmequeres).

As pessoas passariam ao lado do nosso banco... (não, não nos podíamos sentar em bancos. estávamos na relva, meio deitados, meio sentados, como caímos assim ficámos, meio perfeitos.). As pessoas passariam ao nosso lado e diriam
- estes têm o tempo contado.
Não tínhamos. Nós não contávamos o tempo, embora tu teimasses em plantar malmequeres selvagens. Tu rias-te cada vez que eu dizia que tu não fazias sentido. Nunca me passaria pela cabeça perguntar-te porque teimavas naquela ideia. Eventualmente passaria uma borboleta, e ficaríamos o resto da vida a discutir sobre
- tu não fazes sentido
rias-te e eu
- mas não fazes mesmo
e a borboleta voava e
- és desprezível, vou-me embora
mas depois eu nunca ia; afinal queria ver para onde ia voar a borboleta a seguir. Se ficamos em algum sítio, é sempre por causa disso
- para onde vai voar a borboleta a seguir?
Se esperamos, é porque estamos a pensar
- quando ela voar, vou segui-la?

Afinal, ensinaste-me que os malmequeres selvagens não crescem sozinhos. É preciso que os deixem crescer, enquanto olhamos borboletas.

Alicee

1 comentário:

The RP disse...

a simplicidade de um sentimento tão complexo.

este blog é verdadeiramente inspirador!

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