Irritam-me as tuas palavras monocórdicas mortas e miseráveis, arrastadas pelos cantos de uma casa por onde nunca ninguém quer passar. Irritam-me as tuas palavras escritas a sussurrar e desprovidas de olhos nos quais eu possa olhar - e ter mais um bocadinho de certezas. Irritam-me as tuas palavras esvoaçantes leves e inúteis que o vento fez mudar de rumo antes de me roçarem a pele. (Não que eu quisesse que me roçassem a pele essas tristes tão tristes gotas de nada que escorrem do teu rosto a sorrir, quando me pedes para não te deixar.) Irritam-me as tuas palavras que me pedem para não te deixar, e irritam-me todas as outras não-palavras - porque não são dirigidas a mim - que pedem igualmente, mas aos outros, para ficar. Irritam-me as tuas palavras iguais tão iguais a toda a banalidade do mundo. Irritam-me as tuas palavras fáceis decoráveis e escritas num qualquer banco de jardim com chaves que abrem coisas triviais como casas.
Quero, ao invés, palavras difíceis que enrolam a língua e a elas trazem atrelados sentimentos difíceis demais para repousarem num jardim. Quero-as articuladas devagar, como uma vela que arde à noite e sopra desenhos de fumo sem fim. Irritas-me tu, porque as tuas palavras não são minhas, e nem sequer são assim.
de mais uma tua
#29 letter to the person you want to tell everything to,
but you're too afraid to
7 comentários:
Oh querida, tu arranja-me tempo para escrever.. as tuas bolas são , também elas, uma terapia para mim!
E esta de hoje, adoro... Está fantástica *-*
'Irritas-me tu, porque as tuas palavras não são minhas, e nem sequer são assim.'
Que Bonito [:
Está assim, como direi, perfeita :)
Gostei tanto, tanto, tanto...
A mim irrita-me essa mania que tu tens de escrever tudo tão bem.
(estou a brincar, não me irrita nada, gosto muito, muito, muito!)
Genial!! Sinto tanto isso!!! Meu Deus!
mais uma carta poderosíssima. levaste este desafio a um nível totalmente diferente :O
Adoro, quero o difícil, o fácil é de todos! (:
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