Stardust.

Diz-me, porque é que as pessoas teimam em misturar as nossas palavras com os cereais que comem ao pequeno-almoço? É que despedaça-me vê-las ali a flutuar no leite, moles e sem consistência, como se fossem simplesmente algo artificial cheio de açúcar e aditivos que vem dentro de caixas de supermercado e até traz brindes coloridos, e que as pessoas comem todos os dias. Despedaça-me a mim e deve despedaçar-te a ti, porque somos feitos do mesmo pó de estrela. Diz-me, porque teimam as pessoas em colar com fita-cola rasgada com os dentes as nossas fotografias dos nossos momentos em papéis enrugados espalhados pelas paredes, apregoando perfumes e relógios e coisas lindas que se oferecem nestas épocas às pessoas de quem se gosta? Se eu não gosto de ti? Eu não gosto de ti: somos feitos do mesmo pó de estrela, que é muito mais do que as pessoas sabem. Então talvez seja por isso que as pessoas teimam em juntar as flores que apanhamos distraídos num jardim, e a colocá-las em jarras cheias de água. Não concebem que as flores podem ser colocadas no meu cabelo ou deixadas na relva para fazermos desenhos com as suas pétalas e escrevermos palavras verdadeiras demais para serem ditas ao pequeno-almoço, com a boca cheia de cereais.

As pessoas não concebem o que somos, mas tentam enfiar-nos à custa no seu mundo formatado de refeições a horas, prendas previsíveis e jarras de flores a enfeitar casas arrumadas. Isto despedaça-me. E deve despedaçar-te também a ti, porque somos feitos do mesmo pó de estrela.

Alicee

1 comentário:

Sofia disse...

Adorei, tinha tantas saudades de ler-te aqui :)

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