quando eu era pequenina queria ter um sítio. via nos filmes as pessoas a terem sítios para pensar, ora fosse em cima de um telhado, ou no jardim de uma casa abandonada que ninguém conhecia. e depois havia sempre uma parte do filme em que mostravam esse sítio a alguém importante:
-és a primeira pessoa que trago aqui.
então um dia fui passear perto da minha casa e encontrei uma figueira que me pareceu suficientemente simpática para a fazer minha. voltei logo e chamei a minha melhor amiga:
-anda, vem ver o meu sítio.
e basicamente chegámos lá, ela viu a figueira e talvez tenha imaginado as brincadeiras que eu nunca tive ali, os confins do pensamento que nunca alcancei; talvez tenha ido arranjar um sítio dela quando chegou a casa, só porque sim. e eu sentia-me um pouco uma espécie de fraude, mas não lhe contei a verdade.
agora penso que se calhar o importante não era o sítio, ou o que eu fazia lá, ou o significado que eu lhe atribuí ou não. talvez ao levarmos alguém connosco para dentro de um segredo nosso lhe estejamos a dizer:
-o meu sítio és tu.
Amy
#17 letter to someone from your childhood
5 comentários:
Brilhante!! Adorei o texto, e o lugar secreto!!
Talvez são essas pessoas que nos fazem, também, um pouco a nós. :)
"o meu sítio és tu". é sempre isso que queremos dizer, no fundo.
"o meu sítio és tu"
um dia quero mesmo dizer isto a alguém. mais importante, quero sentir isto de alguém.
[e tu estás cada vez melhor, credo!]
Ai rapariga, às vezes até me arrepias. "O meu sítio és tu.". O que é que pode ser mais perfeito do que isto? Pouco, muito pouco...
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