Dama de copas, eternamente.

Eram as cartas espalhadas no chão. Não era aquela palavra que eu queria gritar, mas tu estavas ali. E eu a apanhar uma por uma. Que desgraça. Atira uma pessoa tudo ao chão e liberta tudo o que sente, para depois, de joelhos, andar a apanhar sentimento a sentimento e voltar a meter tudo cá dentro. Quando os sentimentos são assim expelidos, dilatam por respirarem tanta vida. E já sabes como é, agora vai tudo apertado cá para dentro, empurra daqui, empurra dali. Agora vai doer ainda mais. O espaço é cada vez menos, as coisas para dizer mais e mais. Quem me mandou a mim espalhar tudo cá fora? Gritar palavras que não deviam ser gritadas? A tristeza agora é maior. Tu saíste, eu fechei a porta com emoção para te fazer aproximar. Aproximar, sim. Bati com a porta só porque não sabia que mais fazer. Talvez quisesse que os sentimentos não se escapassem por ela, não fugissem mais de mim. Nem me ajudaste a apanhar as cartas. Uma por uma, apanhei-as eu. Umas à vista, outras sobreviventes da guerra, a fugirem de mim, a esconderem-se debaixo dos móveis, a fazerem-me rastejar. Como eu maltrato o meu coração. Como eu bato portas quando as quero abrir. Não me deixas outra escolha.

S.

2 comentários:

Ana disse...

"Atira uma pessoa tudo ao chão e liberta tudo o que sente, para depois, de joelhos, andar a apanhar sentimento a sentimento e voltar a meter tudo cá dentro."


É realmente verdade... Primeiro explode-se e depois volta-se a colocar tudo no sítio, e é a parte que custa mais.

Sofia disse...

Andas desaparecida. Nem sempre comento, mas é impossível não vir ler-te e às tuas heterónimas ;)
beijinho**

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