If I had a chance, I'd ask the world to dance

Fechei a porta. E, tal como nos filmes, encostei-me àquela madeira lascada silenciosamente, tão calma como se me encostasse a ti de olhos fechados. Ouvia-te os passos. Parecias ainda estar ali, meio hesitante. Imaginei-te a querer dizer-me mais alguma coisa. A pensares

- se calhar ela já se descalçou, já se despenteou, já está de pijama, já está deitada, já está a dormir.

o que era impossível, só tinham passado cinco segundos, mas a insegurança é assim. Imaginei-te a fitares a porta e a não veres para além dela, mas a desejares, nem que fosse para com o olhar me arranjares uma madeixa de cabelo. Queria abrir a porta e sorrir. Depois ouvi-te degrau a degrau, fiquei quieta. Conheço os teus passos à distância: foste a pé, talvez para fazer o mesmo que eu fazia encostada a uma porta carunchosa. Sonhar mais um bocadinho. Descobri a dificuldade que é fazer aquilo que via na televisão de saltos altos. Escorregar pela porta, o mais lentamente possível, até me sentar junto a ela.

- o chão está frio

pensei eu. Podia dizer que não tinha pensado, que quando se sonha as sensações distorcem-se. Seria mais romântico, sim. Mas não, o chão estava mesmo frio, e eu reparei. Reparei também que eu não me importava minimamente, tal como tu não te importavas de percorrer à chuva dois quarteirões. Arrepiei-me. Que dirias se eu saísse dali a correr e te encontrasse do outro lado da rua, e te desse um guarda-chuva? Não ficarias surpreendido, eu sei. Pensarias

- ela conhece os meus passos à distância. bolas, devia ter batido à porta.

Alicee