Desordens.

Eu tentei. Juro que já tentei. Ok, não juro pela minha saúde, nem de ninguém querido. Pela saúde de um mosquito irritante, vá. Mas o que interessa é que juro. Juro que tentei afastar-me de ti. Juro que gritei comigo própria, juro que já achei que o que faço aqui todas as manhãs é absurdo. Juro que já me achei doentia. Juro que já tentei pensar o pior de ti. Mesmo a sério. Empenhei todos os meus esforços em encontrar algo que me fizesse detestar-te. Um colarinho com vincos, um botão descosido, uma pastilha elástica colada ao sapato. O toque do teu telemóvel que só mostra que és um anti-social e que ninguém te liga. Se te ligassem muitas vezes, decerto já te terias fartado dele. A meia-torrada, que é um insulto às torradas inteiras deste café. E o facto de rasgares o pacote de açúcar de qualquer maneira e de deixares sempre cristais espalhados pela mesa - tenho vindo a apurar a minha visão. Eu juro, juro até pela alma de um mosquito irritante, que já me achei como tendo uma desordem mental qualquer, porque oriento todo o meu dia à tua volta, quando nunca tive sequer coragem de uma série de coisas que me passam pela cabeça neste momento, mas que não vou enumerar - cada uma delas atirar-me-ia à cara a estúpida que eu sei que sou. E se tu me conhecesses apenas por ler este texto, verias que na verdade eu sou uma triste desinteressante, à qual lhe bastou ver-te passar um dia numa passadeira para ser feliz.

I. W. @