Maybe chaos just loves us too much.

Tinha aquele parágrafo na cabeça. Não a letra de uma música aleatória que se ouve na rádio e que persiste em nós todo o dia. Eram sim frases aparentemente sem ritmo e às quais eu quase não dei importância, mas que agora dançam na minha cabeça. Dançam ao som da colher a bater na chávena, aquele tilintar irritante que eu insisto em manter, caso um dia tu repares e me mandes parar.
-Pára!
Gritarias tu aqui no meio, e toda a gente ficaria a olhar para nós. Eu paralisaria, não porque a tua acção era completamente louca e obcessiva, mas porque tinhas falado para mim. E de súbito olharias os meus olhos abertos para ti e a colher suspensa no ar, e derreter-te-ias em mil desculpas. Tinhas uma dor de cabeça insuportável, uma noite inteira passada a ler um livro interminável. E eu sorriria, ao ver-te sentar na minha mesa, e ao invadi-la com o teu galão,
-desculpa, toma uma tira de torrada; até pode ser a do meio, hoje não tenho fome,
veria que sempre éramos iguais. O parágrafo que percorria agora os carris da minha mente tinha sido o último em que os meus olhos pousaram ontem, antes de se fecharem. Tinha sido escrito por uma senhora com um nome triste, e dizia algo como sermos sempre o anónimo de alguém, numa fase qualquer da nossa vida. A senhora do nome triste fazia tudo parecer triste, por isso o parágrafo era ele próprio triste, claro. Tão triste que fechei o livro, e os olhos, e a minha mente, e o meu coração àquela tristeza estúpida em que o raio da senhora nos queria fazer acreditar. Seria provavelmente uma senhora que nunca tomava café em sítios com janelas grandes que dessem para o Sol entrar. Uma senhora que nunca soube as incógnitas da vida, nunca conheceu as pessoas só de as ver passar na rua. Nunca percebeu que não conhecer é o mais comum neste mundo, e isso não deve ser infeliz. Eu sou a tua anónima, tu deves ser provavelmente o anónimo de alguém que não eu. Mas estamos felizes. Eu faço a colher dançar na chávena, e tu hoje entraste no café a cantar. Não te ouvi, mas vi pelos teus olhos.

I.W. @

Obrigada, Anónimos deste mundo.

4 comentários:

Joana ' disse...

Querida... Eu amo mesmo esta Invisible.. Ao ler estes textos tenho sempre a mesma vontade: ir ao café mais próximo e procurar ser a anónima de alguém.
Fantástico, como sempre.
Copiei para o facebook, com os devidos créditos :)
Beijinho

Joana ' disse...

Eu sei que desistir é sempre mau querida... Mas, por vezes, não temos outra solução.

E como estão a correr as coisas? Ainda olhas para os ossos das pessoas no metro? :p

Anónimo disse...

Acho que passa por isso, 'conhecer, só de passar na rua', nunca foi nada mais que isso... e eu continuo o teu anónimo :) Não acreditemos nas coisas tristes, não nos fazem bem ;)

Muito bom! :)

Sofia disse...

Estou com a Joana... eu leio isto e só me apetece pegar num galão e numa torrada e alapar o rabo na cadeira dum café qualquer com janelas grandes, enquanto escolho alguém de quem eu possa ser anónima. Os textos dos galões e das torradas são sempre os meus preferidos :)

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